De A para B, com duas voltas à rotunda



O concerto começara. O Matt asssumiu a posição quase fetal "a duas mãos" sobre o microfone.
O meu carro planava na estrada vazia, sob o pôr-do-sol. Essas são as estranhas tardes em que cada semáforo é uma dádiva e o objectivo é não chegar antes da música. Mas agora a batida marcial entrecortada, mas agora a guitarra cristalina, mas agora a voz susurrante, e agora eu , mas agora eu, mas agora eu. Outros carros passam em vôo nupcial. O travão de mão esganiçou-se. As cordas ainda vibram soltas do seu constrangimento. O silêncio perdura. A ignição continua ligada. As luzes do Coliseu acendem.


(The National - Coliseu do Porto, 23 de Maio de 2011)

O avião das 06h00





Após alguns concertos em Portugal, que não incluiram a cidade do Porto (Guimarães), o "meu amigo" Neil Hannon, foi empacotado num vôo da Ryanair (liberdade poética) para se apresentar em pleno palco do queimódromo. Foi um claro dilema moral que se me apresentava: Ignorar o concerto do Mr. Divine comedy, perto de casa, ou enfrentar a troupe de rapazolas no limiar do coma alcoólico? Ainda bem que decidi ir, pois rapidamente conclui que a arena estava "reservada" a conaisseurs, que empunhavam as letras das músicas em jeito de estandarte. Foi o que motivou o homem para prosseguir, que entre um início de espéctaculo quase às duas da manhã e o batuque enervante das atracções de feira, quase esmoreceu. De nada adiantaram os seus pedido de clemência. "Crazy show", disse. Voltou no vôo das 06h00 (não é liberdade poética). Calculo que tenha passado um Domingo em convalescença. O concerto? só para conaisseurs. É a divina comédia.