Landlord poker


Há um novo jogo no País: Poker com o senhorio. É a dinheiro, só tem duas jogadas e pode-se fazer bluff de ambos os lados. É assim: o inquilino olha o senhorio nos olhos, o senhorio espera com falsa paciência. Se o inquilino decide jogar uma renda baixa pode permitir que o senhorio o indemnize e denuncie o contrato com o valor de 60 mensalidades do valor da jogada. Se jogar uma renda alta, pode ficar a pagá-la mensalmente.
Por outro lado, o senhorio pode ter ou não interesse em denunciar o contrato, mas não pode revelá-lo,  ou, poderá até revelar a intenção errada lançando o isco ao inquilino (um pouco como o guarda-redes que denúncia o lado para o qual se vai atirar na marcação de uma penalidade).
Se começarem a notar muita gente na rua de abas de gabardina subidas e óculos escuros, isso é "landlord poker".      

Márcia


Não sei o que tem a voz dela. Não sei se são aquelas inlexões entre os médios e os agudos, se é a namorada dos quinze anos, se são as "madeiras" anasaladas, se é a voz maternal, se é a doçura ou a acidez, se é o modo como a oclosão maxilar ocorre, se é a voz que quase se abafa em cada sílaba, se é o fim de boca, se é a junção da língua com o palato ou se simplesmente é a leveza de quem faz roçar as cordas vocais em núvens de jasmim... serei eu?    

Porto imaginário

Foto: Xaramaneco - Pr. da Liberdade - Porto

Pontes para o futuro


A série da BBC "O planeta humano" (RTP1 - 3as. 22h00) surpreende várias vezes em cada episódio. Por vezes parece abordar um planeta desconhecido (daqueles numa galáxia distante). Este último, dedicado às populações vizinhas de rios, terminou com umas inacreditáveis pontes vivas, feitas (deixadas crescer) com raízes vivas da àrvore-da-borracha, ao longo de décadas. Cultivada, cuidada e passada entre gerações, torna-se finalmente parte da malha viária  pedonal da região, sobre rios quase intransponíveis, de outra forma, na época das monções. Situam-se em Cherrapunji, Índia. Há um espírito diferente em plantar uma ponte para décadas mais tarde e repeitada por todos. Posso voltar a acreditar nas pessoas? 
    

99%

Movimento ocuppy wall st.-"Somos 99%" é o melhor slogan de sempre.
Espera...alguns de nós ainda têm emprego e umas férias ao sol, e acreditamos na meritocracia, não é? E não queremos trocar o certo pelo incerto e...
Já dizia o outro qualque coisa de parecido.

Clubismo


Neste Sábado à noite decorreu mais uma sessão de clubbing na casa da música do Porto, com um menu de degustação à volta do mesmo ingrediente: a guitarra.
De entrada uma Laetitia Sadier (vocalista dos Stereolab), com um projecto musical que não é para todos os dias, que classificaria como “ a bela e o monstro” , onde uma voz quase angelical contracena com o monstro de seis cordas, com distorção, deixado seduzir-se. Diria que ambos cantam “à capela” em vez de ser uma voz acompanhada à guitarra.
O prato de peixe calhou ao ex-Sonic Lee Ranaldo que apresentou, a solo, temas do álbum a editar em Março, numa versão com guitarra acústica ligada, não ao pedal de distorção, mas à central da EDP mais próxima. Houve momentos em que mais pareciam três ou quatro no palco (mas uma banda faz falta).
O verdadeiro manjar veio a seguir com Dean Wareham (guitarrista dos Galaxie 500) , a passar pelos temas da banda de que foi mentor. Após dois pratos de degustação chegou a costeleta de vitela com batatas fritas e ovo. Notei uma total afinaçao com o baixo, mas sabendo que se tratava da mulher de Dean (e sua colega no projecto musical - Dean & Britta), poder-se-á dizer que é uma questão de intimidade. Um feeling blues na guitarra ora planante sobre os espasmos da secção rítmica, , ora imersa nestes.Uma sonoridade potente mas precisa. Voz (e letra) etéreas. Como diz o “Mar superior”: Galaxie 500 000 000.

O sal da luz

Miguel Neiva é um designer Português que criou um sistema de códigos para identificar cores (coloradd), ajudando os daltónicos. Podem ver estes códigos, p.ex., no esquema das linhas do metro do Porto. Este sistema está a caminho de se tornar universal. Bem feito. 
Miguel Neiva no Tedx Porto aqui.

Bebe mais um copo


Há alguns temas da música ligeira Portuguesa que passaram a míticas, ainda cantaroladas nos bons e maus momentos de um longo dia de trabalho, em jeito de fado. Para mim um desses temas é o "play-back" do Carlos Paião. Serve isto para dizer que os "Virgem Suta" chegaram finalmente ao Porto, carregados de garrafões e o humor de taberna, como uns "The Pogues" alentejanos orgulhosos. Decidiram ofertar à plateia, a sua interpretação do "play-back". Bem-haja. Foram uns "Virgem Suta" agradecidos. A "família" ficou completa com o Hélder Gonçalves e a Manuela Azevedo. Claro que foi muito bom. Obrigado nós.

Wall-e

Nas ruas do Porto é possível observar expressões de intervenção artística, social e política, ainda antes das manifestações deste ano, pós-troika. A caminho de um novo PREC?   

ÓH de marítima

Extractos da ode marítima, de Álvato de Campos, nos "muros" de contentores do Porto de Leixões. Apropriado.

Be afraid


Antecipando a série 6 de Dexter (ainda sem data de estreia em Portugal). Podia dizer que Dexter é uma das melhores séries de sempre, mas prefiro dizer que tem 2 leituras; Uma para pessoas normais e outra para o "serial killer" que há em nós. Não o mates.   

Now, hear me James!


Cartaz 2011

Bilhetes 2011 / 1988
Quem diria que após 23 anos, se assistiria a mais um concerto em Portugal dos The Woodentops. Em Julho de 1988, o concerto na antiga discoteca Koolkat, em Matosinhos (mais conhecido como Cais 447), mostrou uma banda a dispersar-se literalmente em palco, com Rolo McGinty a não querer terminar o concerto. 
Eis que, de um momento para o outro descubro que tocariam daí a 2 horas em Vila do Conde (obrigado Antena 3), num muito formal e cómodo Teatro Municipal de Vila do Conde. Uma plateia sentadinhada, mostrava a geração de 80 e alguns filhos (os meus "vizinhos" de lugar vieram de Vila Nova de Milfontes). Pena que parecia um concerto mais undercover do que underground, a julgar pela reduzida assistência que compensou em entusiasmo o que faltou em número. Os The Woodentops mereciam uma sala no Porto, mas se é Vila do Conde que nos propícia o festim, bem-haja. Rolo ainda teve uma piada sobre o concerto de 88:
- You can go whenever you want, because we'll be playing all night. Oh, we've done it before ...
- We know (alguém do público)
A genica (que outro termo poderei usar para descrever o ritmo metodicamente alucinado daquela gutarra?) ainda lá está.
Ao que parece, haverá novo album de originais. Nós esperamos!     
Exclusivo xaramaneco: The woodentops em Vila do Conde

O ouro do Douro


A propósito da apresentação no Porto, Casa da Música, da Ringsaga de Richard Wagner, dedico este vídeo a pelo menos um amigo que tem a coragem de assistir às 4 sessões a decorrerem este fim-de-semana. Esta escolha não é casual.
Cenas de "O novo mundo" (2005) de Terence Malick, com o Vorspiel de "Das Rheingold".

Viagem ao interior da noite


A viagem à noite do Porto (como à de outra qualquer cidade) assemelha-se a um documentário da vida selvagem. Por detrás do bar, entre os gins e as cervejas adivinha-se um Sir Richard Attenborough, cuja voz é dobrada, como sempre, pelo mítico Eduardo Rêgo: "Os machos disponíveis deambulam por entre as fêmeas, seleccionando-as pelos aparentes sinais de disponibilidade". Não há tempo nen paciência para um grau de conhecimento mais profundo (afinal foi disso que eles e elas fugiram). (Un)dress code e outros acabementos decorativos, junto com o "body language" destacam-se como anúncios de néon a cintilarem "temos vagas". Sorrisos alcoolizados em especial, fazem voltar a barbatana dorsal na direcção da presa. Aproximação sorrateira e sincronização aos movimentos da fêmea. Algumas palavras, que para serem audíveis são proferidas praticamente com a língua no canal auditivo, aumentam o nível da ameaça.
Até hoje, os cientistas ainda não identificaram que mensagem, passível de caber em algumas palavras, pode um espécimen adulto dizer a um desconhecido, avisado, para iniciar a segunda e mais arriscada fase da aproximação, sem que um deles ou ambos, não se desfaçam em risos por tão desajeitada e inútil tentativa de dizer outra coisa que não o óbvio.
E quando tudo parecia desastrosamente perdido, eis que a fêmea se contorce batendo alegremente as barbatanas. Afinal, valorizamos socialmente o hedonismo biológico.  
Chegados a este ponto, lembramos que a última espécie que se escarnecia as tentativas desajeitadas na obtenção dos favores do sexo oposto, acabou extinta.
Com a manhã, esta liça noturna dissolve-se em torradas, compras semanais, máquinas de roupa para estender, sopa para três dias, almoços de família, renovação de promissórias bancárias e o ranho dos filhos. Onde está a radiante aura de promessa de felicidade às 11.33 de todas as manhãs? Restam somente irrelevantes transeuntes perpétuos.
Sem tempo para mais, porque a noite e a vida acabam e a espécie é mais importante do que o indivíduo, a Natureza há-de sempre ser servida. Alguém para aperitivos?           

Grande turismo

A partir do século XVII, os jovens das elites sociais Inglesas iniciaram o hábito de terminar a sua educação clássica com uma viagem, pelo continente Europeu: O Grand Tour. O percurso poderia ter algumas variantes, mas obrigatoriamente incluía Paris, Veneza, Florença e sobretudo Roma. Nápoles, com Pompeia e Herculano também eram normalmente visitadas. A volta fazia-se com a travessia dos Alpes. Esta épica viagem durava entre dois a quatro anos e foi também seguida por jovens de outros países do Norte da Europa e mesmo da América. A viagem visava complementar a educação formal, abrir horizontes, a busca da arte e da inspiração, temperada com uma certa joie de vivre e alguns prazeres mais libertinos. Exemplos da inspiração do Grand Tour podem ser vistos na obra de arquitectos como Cristopher Wren (Catedral de S.Paulo, em Londres). 

Incursoes na cozinha - Ovos Benedict

Numa missão de busca e destruição, o Xaramaneco entrou na cozinha e saiu com uns ovos benedict "ajantarados": Pão de Moncorvo torrado, presunto, ovos pochêt e molho holandês.

Legos, quero legos !


A Nasa vai lançar a sonda Juno para estudar o planeta Júpiter.
A bordo seguem três figuras da Lego representando os deuses romanos Júpiter e Juno, bem como o "pai" da exploração espacial, Galileu Galilei. A iniciativa faz parte de um acordo entre a NASA e a Lego para atrair mais jovens  para a investigação e a ciência.
Nas mitologias grega e romana, Júpiter cobriu o mundo com um véu de nuvens para esconder da mulher as suas intenções para com Io, uma bonita ninfa.  Mas Juno, desconfiada, conseguiu revelar a verdadeira natureza do deus.
Também a sonda tentará observar para lá da atmosfera densa de Júpitar em busca da verdade.
Acresce que Galileu foi o descobridor das 4 grandes luas de Júpiter, e a sua figura lego transporta um telescópio.  

O aniversário de Vénus

"A arte dá-te os parabéns", em qualquer museu estatal Italiano, no dia do aniversário. Auguri pela ideia e pelo conceito do cartaz.

Banda sonora para Florença

Na antecipação da viagem a Itália, questionei-me qual seria a banda sonora que elegeria para um fim de tarde na Ponte Vechio. Munido de um Mp3 player e uma short list de temas candidatos, a faixa eleita foi uma surpresa para mim.Mas a confirmação, no dia seguinte, foi feita com Florença aos pés.

People going nowhere


Produções Xaramaneco apresentam "People going nowhere", um filme de suporte ao tema "celebrate", por Dark Dark Dark, que por sua vez suporta o pôr-do-sol de costas para o mar.
Filmed on location at Matosinhos boardwalk.

De A para B, com duas voltas à rotunda



O concerto começara. O Matt asssumiu a posição quase fetal "a duas mãos" sobre o microfone.
O meu carro planava na estrada vazia, sob o pôr-do-sol. Essas são as estranhas tardes em que cada semáforo é uma dádiva e o objectivo é não chegar antes da música. Mas agora a batida marcial entrecortada, mas agora a guitarra cristalina, mas agora a voz susurrante, e agora eu , mas agora eu, mas agora eu. Outros carros passam em vôo nupcial. O travão de mão esganiçou-se. As cordas ainda vibram soltas do seu constrangimento. O silêncio perdura. A ignição continua ligada. As luzes do Coliseu acendem.


(The National - Coliseu do Porto, 23 de Maio de 2011)

O avião das 06h00





Após alguns concertos em Portugal, que não incluiram a cidade do Porto (Guimarães), o "meu amigo" Neil Hannon, foi empacotado num vôo da Ryanair (liberdade poética) para se apresentar em pleno palco do queimódromo. Foi um claro dilema moral que se me apresentava: Ignorar o concerto do Mr. Divine comedy, perto de casa, ou enfrentar a troupe de rapazolas no limiar do coma alcoólico? Ainda bem que decidi ir, pois rapidamente conclui que a arena estava "reservada" a conaisseurs, que empunhavam as letras das músicas em jeito de estandarte. Foi o que motivou o homem para prosseguir, que entre um início de espéctaculo quase às duas da manhã e o batuque enervante das atracções de feira, quase esmoreceu. De nada adiantaram os seus pedido de clemência. "Crazy show", disse. Voltou no vôo das 06h00 (não é liberdade poética). Calculo que tenha passado um Domingo em convalescença. O concerto? só para conaisseurs. É a divina comédia.